Dabi X Keigo - Blog Posts

moodycat42

2 years ago

Edit I made recently. Posted it to my Tiktok and decided to post it here too.

Pretty Lies | Hawks x Dabi

O calor já começava a não incomodar tanto quanto há dez minutos, mas o sangue de Hawks, diferente das mãos de Dabi, começava a esfriar e ele já conseguia sentir que a situação de suas asas era bem pior do que ele esperava. Ele havia visto elas queimando, havia sentido a dor infernal na área mais sensível de seu corpo, mas algo em si, algo dentro de seu peito, queria fazer com que ele acreditasse que tudo aquilo não passava de um pesadelo.

Por um momento, ele acreditou.

Preferiu acreditar na mentira linda que lhe era contada, escondendo toda a dor que ele sabia que, em algum momento, lhe atingiria com tanta força que ele se perguntava ser capaz ou não de suportar.

Odiava aquilo. Odiava se sentir tão… vulnerável a ele. Odiava a sensação de insuficiência, a incapacidade de conseguir simplesmente lhe dizer adeus.

Não conseguia.

Sempre que tentava se via preso nos olhos azuis flamejantes dele, em suas cicatrizes, suas mãos… Parecia algo tão natural, mas não era tão simples assim. Keigo era completamente apaixonado pelas mãos de Dabi, principalmente pela forma que elas tocavam suas asas. Tê-las ali, tocando-as de uma forma tão bruta, queimando-as, havia se tornando o mais novo pior pesadelo de Hawks.

Infelizmente, era real demais para ser apenas um pesadelo.

Mas ele não acreditava que fosse ser diferente. Ele esperava, sim, mas não acreditava realmente nisso. Ele havia tirado a vida de Twice, e Dabi havia tirado dele suas asas. Elas cresceriam de novo, é claro, mas aquela dor, a dor que apertava o coração de Keigo, jamais seria esquecida. Aquilo ficaria marcado nele de forma mais profunda e intensa do que as marcas que ficariam em sua pele. Queimaria mais do que as chamas de Dabi.

— Eu confiei em você! — Dabi havia gritado aquelas palavras tantas vezes que Keigo havia parado de contar na sétima ou oitava vez.

— Eu sei — foi tudo o que conseguiu dizer, não conseguia formular nenhuma frase além daquela, tudo em que sua mente focava eram nos olhos azuis de Dabi.

— Mentiu pra mim… todo esse tempo.

— Não! — Keigo interrompeu. Tentou se colocar de pé, mas seu corpo falhou, seu joelho cedeu e ele voltou a cair com eles no chão. — Não todo o tempo.

Dabi riu como se aquilo fosse a maior mentira que ele houvesse escutado.

— Não todo o tempo?

— Não, Dabi. Eu nunca menti sobre o que eu sentia — aves de rapina tinham um foco incrível, geralmente sobre suas presas. Dabi não era mais a presa de Hawks, mas ele ainda o encarava do mesmo jeito. — Nunca menti sobre nós.

— “Nós” nunca existiu, Hawks. Foi uma mentira.

— Uma mentira linda — Keigo respondeu baixinho, dizendo mais para si mesmo do que para Dabi.

Estava a um passo de enlouquecer.

Estava a um passo de Dabi.

— Não deveria acreditar em mentiras — Dabi disse no mesmo tom que Hawks, também dizia mais para si mesmo do que para ele.

Havia acreditado nas mentiras de Hawks.

Havia acreditado quando ele lhe disse que estava do lado da liga.

Havia acreditado quando ele lhe disse que havia algo nele que o atraia.

Havia acreditado quando ele lhe disse só ele havia ficado suas asas daquela maneira.

Havia acreditado tanto em um número incontável de mentiras de Hawks, que não conseguia perceber que muitas daquelas mentiras eram, na verdade, a verdade obscura de Keigo.

— Eu não me arrependo. De nada — Keigo sentia o interior de seu corpo queimar, não pelas chamas de Dabi, mas por não conseguir respirar. — Não me arrependo de nenhum momento, nenhum toque, nenhum beijo...

— Cala a boca!

— … não me arrependo de ter ido atrás de você naquela noite ou de dormir com você.

— Eu mandei calar a boca! — Dabi segurou a camisa de Hawks pelo colarinho com a mão direita enquanto a esquerda estava erguida com suas chamas azuis iluminando todo o local.

Mas ele não se moveu. Ele não continuou o ataque.

Hawks também não.

Tudo o que ele fez foi segurar o pulso de Dabi, mas não para impedi-lo e sim porque sabia que essa poderia ser a última vez que o tocava. A pele cicatrizada tinha uma textura diferente, algo que Keigo havia aprendido a apreciar com o tempo.

— Termine — pediu o herói com as asas queimadas. — Se for pra morrer pelas mãos de alguém, que seja pelas suas.

Ele viu a vontade alí, no canto dos olhos de Dabi. A vontade de carbonizar seu corpo e só parar quando garantisse que cada pequena célula havia se tornado pó. Mas ele não conseguiu. Haviam tantas coisas que o incentivavam e tão poucas que o impediam que sua hesitação repentina era, de certa forma, uma surpresa.

O corpo de Dani cedeu, seus joelhos chegaram ao chão levando Keigo junho a ele. A mão que antes estava em chamas agora estava ao redor do corpo de Hawks, prendendo-o ao seu com tamanha vontade que, se Keigo não o conhecesse, desconfiaria que ele temesse o estar perdendo.

Não era mentira. Dabi sabia que não poderiam continuar com aquilo, sabia o quão perigoso aquilo era.

Sabia que tudo aquilo acabaria ali.

Keigo não pertenceria mais a ele.

— O que você fez comigo? — Dabi perguntou com o rosto preso a curva do pescoço de Hawks.

Sua voz tremulou pela primeira vez. Hawks não se lembrava de quando ela havia falhado assim, nem mesmo quando acordava rouca pela manhã. Era a melhor parte de seu dia, acordar junto a Dabi, ouvir sua voz rouca e manhosa como ela nunca ficava.

Ele concentrou todas as suas forças naquele momento. Em Dabi.

Havia algo em si que queria que seu corpo desligasse, desmaiasse e só acordasse depois, em uma cama de hospital se entupindo de soro. Mas ele não queria. Ele queria ver aquilo, presenciar e se lembrar.

Keigo ergueu a mão até que seus dedos tocassem o rosto de Dabi. Suas forças se esvaiam de seu corpo, mas ele se recusava a deixar aquele momento acabar daquela maneira, se recusava a deixar aquela despedida terminar daquela forma.

— Eu não me arrependo de nada, Dabi — sua voz saía fraca, rouca pela garganta machucada. — Não me arrependo de ter escolhido você.

Dabi afastou o rosto do corpo de Keigo apenas para que pudesse colar a testa à dele, sentindo suas respirações ofegantes se misturarem pela proximidade.

— Você mentiu pra mim…

— Não sobre o que eu senti. O que eu sinto. Nunca foi mentira.

— Eu odeio você — Dabi sussurrou antes de deixar que seus lábios tocassem os de Keigo.

O beijo não demorou muito. O corpo fraco de Keigo não aguentaria a falta de oxigênio por muito tempo, mas Dabi conseguiu se manter ali por tempo o suficiente para sentir seu corpo se arrepiar. Era uma mistura estranha de sentimentos e sensações, talvez por saberem que aquele provavelmente era não somente seu último beijo, mas seu último toque.

Os dedos de Keigo estavam presos entre os fios negros de Dabi, que tinha toda a força concentrada em segurar o corpo de Hawks, tinha plena consciência de que aquilo era tudo que o mantinha de pé. Sentia a pressão de sua língua sobre a dele, sabia que era um beijo de despedida e faria jus aquele final.

Quando percebeu o corpo de Hawks tremular, Dabi afastou seus lábios, sentindo Keigo se aproximar outra vez e lhe roubar um selinho. “Típico”, pensou Dabi, com um quase sorriso desenhado no rosto.

— Você é uma mentira linda — Keigo sussurrou ainda com os olhos fechados.

Dabi sorriu.

A testa de Hawks estava apoiada em seu queixo e seus olhos ainda estavam fechados, então ele não conseguiu ver, ele nunca saberia que Dabi havia sorrido.

Estava feliz, porque sabia que Hawks acreditava em mentiras que ele considerava bonitas.

Decidiu acabar com aquilo ali, daquele jeito. Parecia perfeito. Estavam no meio do mais completo caos, seus sentimentos estavam uma bagunça e havia apenas uma coisa da qual os dois tinham certeza: não haviam se arrependido das mentiras, e se arrependiam ainda menos das verdades.

Dabi segurou a mão de Keigo enquanto se levantava, deixando que o corpo do herói escorregasse até estar ao chão. Ele estava a ponto de ficar desacordado, mas o toque de Dabi ainda o mantinha ali, submerso a ele.

Quando se afastou, pôde ver, enquanto se levantava, os olhos dele se perdendo na imensidão cinza que havia se tornado o céu, e ele jamais saberia que Keigo havia visto ali, naquela imensidão sem cor, o brilho azul dos olhos de Dabi.